segunda-feira, 22 de março de 2010

crime em sonora



Para o primeiro post não introdutório deste (malfadado) blog, resolvi falar do Roberto Bolaño, última de minhas obsessões literárias. Acho que o único autor que eu acompanho fielmente todo o processo de publicação no Brasil; comprei quase todos (menos o primeiro publicado aqui) assim que saíram. E acho, sinceramente, que ele é o melhor escritor contemporâneo que eu já li – melhor que McEwan, Coetzee, Zadie Smith e etc.

Dessa vez, particularmente, não falarei de um livro específico. Mas de algumas impressões que o conjunto de livros que eu li me trouxe. E, como eu disse no primeiro post, tudo sem compromisso e pá pá pá.

O Bolaño tem um universo bem particular, que se confunde bastante com a história de vida dele. Grande parte dos seus livros envolve jovens na América Latina, ou jovens latino-americanos na Europa, ou ambas as coisas, envolvidos com literatura e com política. Muito do seu trabalho é claramente a tentativa de retratar essa geração de latino-americanos que teve sua vida atropelada pelas ditaduras que assolaram seus países.

Mas o que pega mesmo (sempre, é claro) é o jeito dele escrever essa geração. O Bolaño faz milhões de referencias a outros autores nos seus livros (assim como seus personagens, ele era muito apaixonado por literatura), e muitos deles são escritores de romances policiais. Essa verve policial também acompanha o Bolaño – muitas de suas tramas envolvem um mistério, desde seu primeiro romance, A pista de gelo, passando pelo meu favorito (até agora), Os detetives selvagens. Não que eles se encaixem no formato clássico do gênero. Não é uma questão de solucionar mistérios. Me parece mais que os mistérios estão em todo canto da sua narrativa, é o que a move.

A própria linguagem do autor, rápida, precisa, redonda, parece sempre deixar algo pra trás. Eu sempre acho que perdi alguma coisa na leitura, e volto inúmeras vezes, releio os parágrafos, pra sempre descobrir que não há nada de novo escrito ali. É o tal mistério. Que faz com que nunca conheçamos de fato os personagens. Que faz com que a sua geração nunca possa ser precisamente retratada. Talvez por que haja muitos absurdos na história dessa geração. Talvez por que o problema seja sempre exatamente esse: o que foge do nosso retrato. E a escrita do Bolaño assume isso. Em vez de se desesperar, joga com esse mistério o tempo todo. Sabe do fracasso iminente do seu projeto.

Sabe tanto porque até o projeto da sua geração falhou.

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Isso são só algumas observações soltas. Não dão conta de quase nada dentro da obra do Bolaño. São as coisas que me tocam mais no que eu li dele até agora. Infelizmente, muito infelizmente, ele morreu em 2003. Mas no Brasil sua obra continua sendo publicada. A Cia das Letras prometeu o romance 2666 pra maio. Aí eu volto pra falar mais.

p.s.: olha, eu pretendia ainda fazer um post bem menor que esse. mas vamos treinando com o tempo.

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