sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pequeno comentário sobre Síndrome de Bartebly, de Enrique Vila-Matas.


Às vezes me parece mesmo que a literatura chegou nesse beco sem saída, ou pelo menos está dobrando a esquina, prestes a.

Para me explicar: quando eu gosto muito de um livro como o Fup (por exemplo) é porque ele é tão cheio de vida, aos borbotões.

O Síndrome de Bartebly, pelo contrário, está obviamente morto desde o início. E é esse mesmo o seu propósito – falar sobre a morte, sobre o impulso negativo que impede a escrita de fluir, as motivações filosóficas e práticas desse óbito (só decretado é claro àqueles que um dia pretenderam criar vida a partir de suas mãos), o fascínio pelo nada, o silêncio percorrendo as gerações.
Ainda que eu me identifique e que toda escrita tenha seu quinhão de silêncio intrínseco e necessário e que essa agonia e essa tendência sempre pareçam perto de seu triunfo definitivo sobre nossas tentativas e são no final das contas seu próprio impulso, e que eu entenda que esse seja um assunto tão importante quanto qualquer outro (e, se falamos no limite do nada, tão desimportante quanto qualquer outro), livros que sejam sobre tentar viver, o que também significa enfrentar constantemente a morte, me interessam mais.

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É incrível mesmo, e sempre acontece: eu penso numa certa perspectiva sobre um livro, elogiando ou criticando-o, e enquanto escrevo sobre ele começo a fazer o oposto do que eu pretendia.

Um comentário:

Anônimo disse...

que terceiro parágrafo é esse? um blog de muita classe. tenho dito.