quarta-feira, 21 de julho de 2010

Incapacidades


Então eu estava lendo o Austerlitz.

Livro do W. G. Sebald, um escritor alemão aí, contemporâneo apesar de já morto.

E terminei de ler e tudo, achei bonitão, triste e muito muito bem escrito. Mas empaquei na hora de escrever sobre ele aqui pro blog.

Acho que o motivo é que eu não tenho muita aptidão (ou vontade) de falar sobre Grandes Temas, e o livro é bem cheio deles. No final das contas ele é sobre a história da Europa pós Segunda Guerra. E também um romance sobre o Holocausto. Sobre a incapacidade de lidar com o Holocausto. Sobre memória e esquecimento. Sobre como um acontecimento tão estapafúrdio reverbera e muda a forma de alguém (de um país? de um povo?) encarar a própria vida. O que me lembrou bastante o que o Deleuze diz que é o ponto de ruptura entre o cinema clássico e o moderno: depois do Holocausto e da utilização das imagens pelo Terceiro Reich, como encarar o cinema dali pra frente? O que, na prática, resulta em personagens perdidos e até em imagens desencontradas (falsos raccords, etc). No livro, o protagonista, Jacques Auterlitz, conta sua história para um professor universitário, e tudo se volta no fim das contas para uma parte do seu passado do qual não se lembra e que tem nesse momento da história um ponto nevrálgico – um esquecimento que afeta tudo dali pra frente, o incapacitando de viver normalmente. '

É tudo muito interessante, e o livro é lindo, cheio de imagens meio enigmáticas (nem sempre totalmente ilustrativas; como, aliás, no melhor cinema) e de um texto em alguns momentos quase híbrido entre a ficção e o ensaio. Mas na hora de produzir um discurso sobre ele, o assunto escapa e eu só consigo pensar no que já foi dito (e que não é tudo, eu sei, eu sei, mas mesmo assim).

De qualquer forma fica aí minha tentativa de manejar minhas impossibilidades.

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